Rogério Nunes, Viseu 2001








Antes de tudo gostaria de agradecer, em nome pessoal, do Viseu 2001 e em nome da modalidade, esta oportunidade que o Raparigas da Bola / Senhoras da Bola / Zona Técnica Futsal estão a dar aos clubes campeões distritais de Futsal Feminino desta última época e seus agentes de se expressar. Sentimos todos uma vontade massiva em ter igualdade dentro do género feminino na visão, desenvolvimento e aposta da FPF em termos competitivos. Não há mulheres de 1ª e 2ª categoria no desporto sénior da FPF. A reformulação do quadro competitivo do Futsal Feminino e criação da 2ª Divisão Nacional é crucial, mas acima de tudo justo.



Que desafios e dificuldades poderão os clubes esperar com este novo desafio?

Neste momento o que apresentámos à FPF e às nossas Associações não é dado adquirido. Será alvo de análise pela FPF, mas esperamos merecer essa consideração. Não apenas os campeões distritais, mas centenas de clubes de Futsal em Portugal (através de todos os seus agentes) têm sido heróis ao longo de todos estes a largos anos, inclusive em tempos que o futsal feminino fornecia atletas para que as selecções nacionais de Futebol de 11 funcionassem.

Respondendo mais directamente à questão, nós no Viseu 2001 estamos muito empenhados e em união com os nossos colegas, com quem temos estado em contacto constante para que esta proposta seja uma realidade em breve e é de salutar este sentimento comum de que lutamos pelo futuro de todos. Assim, caso a 2ª Divisão Nacional seja uma realidade, novos desafios se avizinham para todos, quer em termos de organização e estruturação, quer em termos técnicos e competitivos, mas igualmente em termos de gastos financeiros. Acredito, porém, que estas são as consequências normais do crescimento de qualquer modalidade. O desenvolvimento significa adaptação e organização, mediante objectivos que cada clube traça como seus. Urge aproximar a realidade competitivas dos clubes ao que poderão posteriormente vir a encontrar na 1ª Divisão Nacional e necessitaremos do apoio da FPF, obviamente. Dependendo do formato competitivo desta possível 2ª Divisão Nacional, certamente sentiremos todos necessidade de reorganizar planos de deslocações, as logísticas, mas também das vidas de todos os agentes, dado que implicará mais horas fora de casa. Mas de certa forma, e no caso concreto do distrito de Viseu, não será tão diferente de casos que temos no nosso campeonato distrital, pois temos um distrito com muitos kms... Acontecerá é com mais frequência. Poderão ser novas realidades, mas penso que significará o inicio de um desenvolvimento importante no futsal feminino, dando inclusive fundamento a uma crescente aposta na formação que se começa a verificar. A falta de motivação que muitos clubes e seus agentes passam desde há muito poderá ter nesta reestruturação uma lufada de ar fresco e o reconhecimento do trabalho de todos eles.



Um patamar intermédio entre as competições distritais e a primeira divisão, poderá trazer mais competitividade e com isso criar clubes mais preparados para uma eventual subida ao principal escalão do futsal feminino nacional?

Estou seguríssimo disso. Enquanto treinador de outro clube já vivenciei isso mesmo na 1ª Divisão. Estávamos completamente desfasados aos mais variados níveis. Que sentido faz subir à 1ª Divisão sem podermos ser minimamente competitivos? Isso agrada a quem? Os Campeonatos Distritais, na sua generalidade, não preparam os clubes para o desafio competitivo que é a 1ª Divisão. É difícil para mim dizer às minhas atletas no Viseu 2001 que o foco do trabalho está em poder ser melhor e chegar ao nacional, quando sabemos todos as improbabilidades deste discurso. É necessário jogar a um outro nível, perante outros desafios, ritmos e intensidades. A 2ª Divisão seria um aproximar das competições e do trabalho de preparação global dos clubes para esse passo acima. Há pessoas que infelizmente se preocupam em arranjar problemas e dificuldades para justificar a não aposta da FPF na criação da 2ª Divisão. Pois eu penso ao contrário, será essa adaptação e transformação que nos fará crescer a todos e que nos fará evoluir, potenciando mulheres-atletas que são exemplo da paixão com que vivem o Futsal e que sonham em um dia ser melhores!



E olhando também para os Campeonatos Distritais que também serão afetados com esta medida, quais serão os prós e os contras da construção duma segunda divisão?

Na minha opinião, não há contras para os Campeonatos Distritais, só prós. Será benéfico para os clubes, para as pessoas que compõem os clubes e para as próprias Associações (que têm um papel importante também no desenvolvimento da competitividade através das competições distritais que criam). Sabemos o quanto é normal no país inteiro haver campeões quase crónicos, equipas essas que mereciam competir numa competição intermédia. Sendo campeões, há logo aqui um primeiro desfasamento perante outros distritos, pois vamos disputar a Taça Nacional e encontramos ritmos bem acima dos nossos... Resultado, só sobem à 1ª Divisão 2 clubes da Zona Norte e 2 da Zona Sul = voltamos ao distrital para nova época... É esta a realidade actual e pergunto-me como podemos motivar todas as jogadoras, todos os treinadores e todos os directores dos clubes de uma qualquer Associação?

Ora a criação da 2ª Divisão Nacional iria permitir uma maior competitividade entre os demais clubes de cada Associação Distrital, o que os faria igualmente evoluir e dar oportunidade de competir acima também. Falando das atletas, sentirem que é possível trabalhar para objectivos atingíveis transformaria a sua motivação, logo o seu rendimento desportivo. Iria ainda dar sentido ao olhar para a formação e a um trabalho feito na raiz e no tempo, que depois nos iria dotar às seniores de equipas mais competitivas. Este facto estaria depois interligado com a qualidade das seleções distritais e de mais soluções para as seleções nacionais.

Creio que isto seria uma motivação para todos os agentes desportivos, para o aparecimento de mais clubes de Futsal feminino e de mais atletas inscritas.


                                                                                                                Rogério Nunes

© 2016 Raparigas da Bola, Portugal

DESIGUALDADE DE GÉNERO NO DESPORTO É EXPOSTANuma semana marcada pelo Dia da Mulher e pelas maiores conquistas portuguesas de sempre no europeu de atletismo, as notícias que se seguiram a estes dias evidenciam a diferença de importância dada à mulher no desporto.

Em geral, é preciso uma mulher ganhar uma medalha para que ela tenha destaque e mesmo quando isso acontece, a visibilidade não é das maiores, como foi visto esta semana.

Ser uma mulher no desporto não é fácil. A falta de visibilidade, a falta de patrocínios e a falta de interesse geram um ciclo que torna complicada a formação de atletas mulheres de ponta.

O grupo Raparigas da Bola luta para quebrar este ciclo, dando voz e visibilidade a atletas femininas, de diferentes modalidades desportivas.

Percebendo-se que no Dia da Mulher há uma tendência para falar sobre mulheres, mas que logo no dia a seguir tudo volta à triste normalidade, o grupo resolveu intervir, usando os próprios jornais desportivos como ponto de partida.

A iniciativa intitulada #ElasTambémJogam, consistiu em transformar todas as notícias publicadas nestes jornais, no dia 9 de março, num gráfico dividido em duas cores: uma para os homens e outra para as mulheres.

Esses gráficos transformaram-se em verdadeiros jornais, mas sem nenhuma foto ou texto, só as cores que evidenciam a diferença de atenção dada às mulheres. Os jornais foram entregues a jornalistas, inluenciadores e atletas para que estes amplificassem o alcance desta ação, ainda no dia 09.

O desejo do grupo não é confrontar os jornais, pelo contrário, é fazer deste um momento de reflexão para que todos se possam unir e dar mais visibilidade às mulheres no desporto, já que elas acreditam que a partir daqui é possível começar a mudar este ciclo de desigualdade. «Mais visibilidade gera mais interesse do público, que desperta interesses de marcas, que gera investimentos e consequentemente volta a gerar visibilidade.» relata Marta Faria, fundadora do Raparigas da Bola.

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