Ana Maria Martins


Ana Maria Martins

GDC Machados

Como foste parar ao Futsal?

Fui para o futsal federado com 17 anos para a equipa existente em Olhão na altura, minha cidade, o CD Marítimo Olhanense, com colegas que jogavam comigo em torneios de verão, e desde então nunca mais deixei a grande paixão que é o futsal.

O Futsal foi sempre a primeira opção?

O meu fascínio pela "bola" apareceu cedo, recordo-me de andar sempre com uma bolinha comigo, desde a escola primária. Mas foi já na escola básica que o gosto se tornou mais evidente e em que cada intervalo passou a ser uma "cortina" para uma correria até ao campo de jogos e um jogo bem disputado. Entretanto as aulas de Educação Física passaram a ser as minhas preferidas pois o desporto era realmente a minha paixão e depois já na secundária onde iniciei o curso de Desporto, o voleibol e badminton passaram a ser a par com o futsal os meus desportos de eleição, mas os dois primeiros apenas pratiquei a nível escolar e por ser, dos três, o único desporto federado da zona, iniciei federada a prática do futsal que até então era apenas jogado nas aulas, rua e em torneios.

Do que é que já abdicaste pelo Futsal e o que é que o Futsal já te deu?

Nada do que tive que abdicar se compara ao que o futsal já me deu. Sempre levei a modalidade a sério e cada vez mais com o passar dos anos. Acabamos por ter muitas vezes que dizer que não podemos ir a saídas ou passeios e viagens mais longas, pois os treinos e os jogos são o mais importante. O tempo para os amigos e família é sempre escasso e tenta-se compensar nos dias sem treinos ou jogos ou depois dos mesmos terminarem. Os sítios e pessoas que conheci e continuo a conhecer, as peripécias a caminho de algum jogo, são tantas as experiências vividas. E são sem dúvida as amizades que acontecem em jogos, convívios, maratonas de verão e em trocas de ideias e informações nas redes sociais, que se mantêm ao longo dos anos e algumas sem dúvida que serão para a vida e são estas as coisas mais valiosas que retiro do futsal.

Fala-nos um pouco do teu percurso como jogadora?

Esta é a minha 17ª época como atleta federada, praticamente metade da minha vida. Iniciei a prática, como anteriormente disse, no CD Marítimo Olhanense. No ano seguinte fui para o UDR Sambrazense onde realizei uma boa época mas tinha a curiosidade de experimentar uma equipa mais competitiva e o Sport Faro e Benfica seria a minha equipa na temporada, equipa esta que se transferiria no ano seguinte para a Casa do Benfica de Faro e viria a ser uma das equipas mais fortes do distrito na altura. Terminada a época escolhi o GDC Machados como o meu próximo clube e foi o início de um amor a um clube que será eternamente o clube do meu coração. Ainda voltei a Casa do Benfica para mais duas épocas, mas como bom filho que à casa torna, este é o 11º ano consecutivo dos 13 em que pertenço a este emblema que vi crescer e ser respeitado por todos, e é agora encarado como um clube de peso no distrito. Foi aqui que cresci, chorei, sorri mais e continuo a ser feliz. Não imagino o meu futuro desportivo em nenhum outro clube.

Como és quando entras em campo, como te defines enquanto jogadora?

Quando entro em campo é como se entrasse noutro mundo, não há nada que se compare à adrenalina da competição. Entro em campo com as minhas colegas para mais uma batalha e tento dar o máximo de mim em cada jogo. Sei que não tenho um semblante muito simpático dentro de campo, quando estou concentrada sorrio pouco, mas quem me conhece fora de campo ou me dá a oportunidade de me conhecer, rapidamente percebe que sou assim apenas dentro das 4 linhas e que o jogo ficou lá dentro ;) Enquanto caráter desportivo, tento zelar sempre pelos melhores comportamentos, respeitando todos os intervenientes na partida e é com prazer que me sinto respeitada pelas minhas colegas e demais intervenientes. Como atleta tento com a experiência ajudar a minha equipa, com a minha visão de jogo, entrega e competência. Penso ser uma colega amiga que tenta ajudar a todos e que nunca baixar os braços por maiores que sejam as dificudades.

Até hoje houve algum treinador/a ou jogador/a que te tenham marcado? Quem e porquê?

Todos os treinadores deixam um pouco de si em nós atletas. Haverá sempre os que nos marcaram pela negativa mas serão os que nos dão uma oportunidade de ser felizes a jogar, os que para nós terão sempre um lugar especial no nosso coração e nos fazem depois, como treinadora, tentar passar a mensagem para as nossas atletas. O mister Zé é dos que será sempre lembrado por mim. Após uma paragem prolongada por lesão em 2010, a recuperação aconteceu aos poucos mas a confiança tinha desaparecido e quando pela primeira vez pensava em abandonar a modalidade, acreditando que já não teria condições para ajudar a equipa, foi ele o responsável por me voltar a fazer acreditar e foi o estímulo necessário para as minhas últimas épocas terem sido das melhores da minha carreira. A equipa técnica que sucedeu e a atual, liderada pelo mister César, continuou com o bom trabalho e consolidou a minha confiança e lugar no plantel. Sem dúvida que esse momento de viragem me marcou para sempre e só posso estar grata pela confiança depositada em mim.

Jogas e fazes parte da equipa técnica. Como consegues equilibrar as duas atividades?

Quando durante a época passada iniciei o curso de treinador grau 1, nunca imaginei o trabalho que iria dar e desde então tem sido uma correria, antes com o curso e agora a treinar a equipa júnior feminina que foi reativada no clube. Entre o trabalho numa empresa de publicidade, o preparar treinos, dar treinos, treinar, jogar e ir aos jogos das miúdas, o tempo livre é mínimo mas todo o esforço é totalmente recompensador. O prazer que tenho em fazer parte da equipa técnica júnior que tem 17 atletas em formação é mais do que alguma vez imaginei. Todo o trabalho e esforço é recompensado pelo carinho e entrega que elas deixam em cada treino e jogo e a evolução que vamos testemunhando. Tal harmonia entre as duas funções só pode no entanto ser possível devido à cooperação do meu mister, César Martins e os diretores e responsáveis do clube que fazem o que podem e dentro das possibilidades do clube, para que nada nos falte.

Jogas na Distrital Algarvia, quais as vossas principais dificuldades?

As dificuldades no distrital são inúmeras. Quando iniciei a prática da modalidade eram muitas as equipas inscritas, duas zonas de competição e neste momento restam 5 equipas ao campeonato distrital. A cada ano que passa é cada vez com mais dificuldades que se vê cada época que se inicia, com o receio de um dia não haver inscrições suficientes para a realização da competição. Acredito que o problema será comum a muitas outras associações que veem decrescer o número de equipas a cada época. Os apoios são cada vez menos, seja de autarquias e de patrocinadores. Espero que as equipas juniores sejam a continuidade do campeonato distrital sénior e que a aposta forte tem que ser na formação.

Até onde pensas chegar no futsal?

Na época passada ganhei as 3 competições que há muito almejava e estive entre as três nomeadas para melhor jogadora do ano no distrito algarvio. Foi a minha época de ouro e este ano continuo a trabalhar pela revalidação dos títulos coletivos. O objetivo principal passa por revalidar o título de campeã distrital, apesar das inúmeras dificuldades que nos esperam, devido, e apesar do número reduzido de equipas, à competitividade e equilíbrio entre as equipas participantes.

Há algum objetivo por cumprir?

Após os títulos conquistados na época passada, os objetivos por cumprir serão lutar pela revalidação dos mesmos apesar de sabermos que será muito complicado e caso seja possível a conquista do bicampeonato e chegar o mais longe possível na Taça Nacional.

Como olhas para o futuro do futsal feminino em Portugal?

Olho para o futuro do futsal feminino com esperança. Vejo a competição a nível nacional, com a criação do campeonato nacional, bem encaminhado e gostaria que houvesse um volte-face nos distritos mais descentralizados e onde a modalidade está em risco de terminar e sucumbir perante as dificuldades. Que os patrocinadores e investidores olhem para o futsal feminino com outros olhos e que os próprios clubes também invistam mais em pessoas dinâmicas, que busquem formas de oxigenar as equipas que vão sobrevivendo. Um dos meus desejos é que as próprias atletas e equipas femininas algarvias se dão mais a conhecer, não se escondam, deixem de olhar para o próprio umbigo e percebam que para haver crescimento da modalidade no distrito e ter uma mais projeção, têm que ser mais unidos e altruístas no sentido de divulgar e cooperar na divulgação da modalidade.

O sonho comanda vida... É o meu lema para quem vive o e para o futsal.

© 2016 Raparigas da Bola, Portugal

DESIGUALDADE DE GÉNERO NO DESPORTO É EXPOSTANuma semana marcada pelo Dia da Mulher e pelas maiores conquistas portuguesas de sempre no europeu de atletismo, as notícias que se seguiram a estes dias evidenciam a diferença de importância dada à mulher no desporto.

Em geral, é preciso uma mulher ganhar uma medalha para que ela tenha destaque e mesmo quando isso acontece, a visibilidade não é das maiores, como foi visto esta semana.

Ser uma mulher no desporto não é fácil. A falta de visibilidade, a falta de patrocínios e a falta de interesse geram um ciclo que torna complicada a formação de atletas mulheres de ponta.

O grupo Raparigas da Bola luta para quebrar este ciclo, dando voz e visibilidade a atletas femininas, de diferentes modalidades desportivas.

Percebendo-se que no Dia da Mulher há uma tendência para falar sobre mulheres, mas que logo no dia a seguir tudo volta à triste normalidade, o grupo resolveu intervir, usando os próprios jornais desportivos como ponto de partida.

A iniciativa intitulada #ElasTambémJogam, consistiu em transformar todas as notícias publicadas nestes jornais, no dia 9 de março, num gráfico dividido em duas cores: uma para os homens e outra para as mulheres.

Esses gráficos transformaram-se em verdadeiros jornais, mas sem nenhuma foto ou texto, só as cores que evidenciam a diferença de atenção dada às mulheres. Os jornais foram entregues a jornalistas, inluenciadores e atletas para que estes amplificassem o alcance desta ação, ainda no dia 09.

O desejo do grupo não é confrontar os jornais, pelo contrário, é fazer deste um momento de reflexão para que todos se possam unir e dar mais visibilidade às mulheres no desporto, já que elas acreditam que a partir daqui é possível começar a mudar este ciclo de desigualdade. «Mais visibilidade gera mais interesse do público, que desperta interesses de marcas, que gera investimentos e consequentemente volta a gerar visibilidade.» relata Marta Faria, fundadora do Raparigas da Bola.

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