Daniela Ribeiro


Daniela Ribeiro

Calcio a 5 Ichnusa Sinnai

Quando e como surge o futsal na tua vida ?
O futsal surgiu num momento da minha vida em que eu jogava pólo-aquático. Uma amiga convidou-me para participar num treino de uma equipa de futsal não federada, e estando eu num período em que se pudesse praticava todos os desportos possíveis, aceitei, juntamente com uma amiga, e lá fomos a um dos treinos daquela que foi a minha primeira equipa. Tinha imensa gente, tinha realmente tanta gente que achei sensato escolher aquele lugar maravilhoso que é a baliza (visto que mais ninguém tinha vontade), digamos que foi o meu escape do momento. Grupo Desportivo de Baguim do Monte, a sociedade resolveu inscrever a equipa no campeonato de juniores da AFP e desde aí que não parou de crescer esta fantástica paixão por esta modalidade.

Como é ser mulher num jogo maioritariamente de homens ?

Os meus pais são o maior exemplo que eu poderia ter, nunca se opuseram às opções que tomei relativamente às modalidades que escolhera ao longo da minha infância. Quando optei pelo futsal os princípios mantiveram-se e até hoje lhes agradeço nunca terem imposto um estereótipo de sexos relativamente ao desporto que pratico. Gostava que a sociedade em geral pensasse um bocadinho assim. Porque para mim não existem dúvidas de que o futsal é para mulheres, como é para homens, como é para crianças... é futsal, é maravilhoso e é para todos! Os números podem decair para a pratica da modalidade no masculino mas o jogo é o mesmo, as emoções existem na mesma e a paixão é desmedida em ambos os sexos.

O Futsal foi sempre a primeira opção?
O futsal nem sempre foi a minha primeira opção mas foi sempre tido em conta. Estudar veio sempre antes de tudo o resto e mesmo isso me fez entender quanto era maravilhoso conseguir conciliar a minha modalidade com as opções que tomei.

Como é a Daniela quando entra em campo?
É um ser estranho, direi! Digamos que entro no meu mundinho e é tao maravilhoso que chega a ser impossível explicar como o vivo. Falo sozinha, imenso! Mas sei que, sobretudo, quando entro em campo sou feliz! Cada vez que entro num jogo tenho mil ensinamentos que só quem lá está entende. Cair e levantar, ir buscar forças onde não imaginamos que existam, abraços de quem luta do nosso lado, uma mão do adversário que ajuda a levantar, um turbilhão de emoções em 40 minutos... é inexplicável e na volta é tudo isto que me faz ser feliz quando entro em campo.

Do que é que já abdicaste pelo Futsal?
Abdiquei de viagens, de festas da minha família, de férias... E o positivo de tudo é que não me arrependo de nada. A minha família perdoa-me de cada vez que abdico deles pelo Futsal, não tenho dúvidas que partilham comigo a mesma felicidade e eu sou uma sortuda em ter uma família assim maravilhosa e compreensiva. Por tudo o resto, são escolhas e eu escolhi que era esta a minha vida, o meu caminho.

Após vários anos a jogar em Portugal deste o "salto" para fora. O que te levou a rumar para Itália?
Eu direi que apenas mudei para outro campeonato, de um outro país. Sou aventureira, gosto de desafios e a descoberta faz-me estar bem. O que me levou a optar por rumar a Itália foi a instabilidade de emprego que naquele momento tinha em Portugal, estava a terminar um mestrado e não tinha nada a perder em agarrar uma nova experiência e foi então que decidi aceitar uma nova aventura na minha vida e integrar o campeonato Italiano.

E voltar? O que teria de mudar no Futsal Nacional?
Não foi o estado do futsal que me fez sair do país. Bem pelo contrário! Em Portugal temos um nível elevadíssimo da modalidade e não me canso de o repetir aqui em Itália. O nível das nossas jogadoras de futsal em Portugal é altíssimo e estou certa que a formação já tem imensos frutos. Aqui em Itália temos um campeonato muito equilibrado mas a percentagem de jogadoras estrangeiras por equipa é enorme, existe investimento e existe apoios por parte dos patrocinadores. Portugal não tendo esse tipo de apoios, investe na formação e na criação de jogadoras o que é realmente fabuloso. Relativamente a voltar não está absolutamente fora de opção, neste momento estou bem e feliz aqui em Itália e é exatamente nisso em que penso, em viver o momento.

Quais os teus objetivos principais esta época ?
Dois entre os principais objetivos foram atingidos, disputar a copa de Italia (a final eight) e passar á segunda fase do campeonato (que estamos a disputar agora e que antecede os playoffs). Daqui em diante os objetivos focam-se no ir mais longe possível. Temos uma excelente equipa mas temos consciência que todas as outras equipas que aqui chegaram também. Um passo de cada vez e com o sonho no comando. Sonhar não custa e ajuda a seguir em frente.

Quais os teus ídolos?

O meu primeiro ídolo: João Benedito! Encantava-me ao vê-lo jogar. A personalidade e presença em campo, a agilidade e reatividade, a força e querer que ele transmitia em campo fez-me acrescentar muito a cada entrada minha em jogo, a cada defesa, a cada grito de força. Será sempre o meu eterno ídolo! Depois tenho como ídolo o "monstro das balizas" Stefano Mammarella, é um jogador fantástico e um exemplo dentro e fora de campo. E por fim os meus principais ídolos, que são as minhas companheiras com quem tenho partilhado a baliza. Dizem que não é fácil quando se vive em concorrência e por isso mesmo me sinto uma afortunada porque tenho encontrado companheiras de baliza maravilhosas!

Até hoje houve algum treinador/a ou jogador/a que te tenham marcado? Quem e porquê?

Todos os treinadores que tive me marcaram sempre com alguma coisa. André Teixeira e José Fernandes foram uma dupla que me marcou particularmente. Ensinaram-me muito e numa fase bem importante para mim. E no meio de todos os ensinamentos guardo sobretudo a educação desportiva que me transmitiram. Relativamente a jogadoras tenho uma em especial que até hoje me dá força através das lembranças do que vivemos, que me serve de exemplo em situações de dificuldade, que me faz descomplicar o que só nós podemos complicar e que me faz entender que sem união num grupo nada existe, Catarina Silva. Joguei com a "Katy" no Restauradores Avintenses, foi sempre um exemplo dentro e fora de campo, nem os seus momentos menos bons a nível pessoal a faziam baixar os braços.

Como gostavas de ser lembrada no Futsal?
Se servir de força e motivação para alguém que esteja a iniciar ou mesmo para quem já pratique já me fará sentir muito realizada. Nunca tinha pensado nisso e além disso acho que estou condenada a ser "aquela que jogava com um colar no pescoço" (eheheh).

Se pudesses decidir, o que mudavas no Futsal Feminino?
Tenho perfeita noção que continuam a lutar para que o futsal feminino cresça, apreço muito isso e eu continuo a lutar também. Mas se pudesse decidir, sem duvida que implementaria o futsal nas escolas básicas, sei que esta ideia já está em estudo e continuo a fazer força para que vá realmente para a frente. Especificamente na parte da mudança, se pudesse mudava a forma de pensar da sociedade relativamente ao desporto em geral, como já mencionei antes, o desporto é para todos.

Que conselho dás a quem se está a iniciar na modalidade?
Que independentemente das dificuldades que possam surgir, não desistam. Os momentos felizes e de glória vão existir e vão ser tão bons e tão fáceis que ás vezes nem os apreciamos como devidamente merecem. Mas, por suas vez, os momentos menos bons, os momentos de raiva, de lesão, de dificuldade, de derrota também farão parte e vão ser exatamente esses momentos piores por que passamos que nos vão ajudar a valorizar o lado positivo e tudo o que de bom podemos colher no futsal! O importante é acreditar sempre que depois de cair é possível levantar. Divirtam-se sempre que entram em campo, disfrutem dos treinos e dos jogos, limpem o suor e voltem a transpirar, lutem e vão sempre rumo aos vossos objetivos... afinal, é isto que nos faz ser FELIZ!

© 2016 Raparigas da Bola, Portugal

DESIGUALDADE DE GÉNERO NO DESPORTO É EXPOSTANuma semana marcada pelo Dia da Mulher e pelas maiores conquistas portuguesas de sempre no europeu de atletismo, as notícias que se seguiram a estes dias evidenciam a diferença de importância dada à mulher no desporto.

Em geral, é preciso uma mulher ganhar uma medalha para que ela tenha destaque e mesmo quando isso acontece, a visibilidade não é das maiores, como foi visto esta semana.

Ser uma mulher no desporto não é fácil. A falta de visibilidade, a falta de patrocínios e a falta de interesse geram um ciclo que torna complicada a formação de atletas mulheres de ponta.

O grupo Raparigas da Bola luta para quebrar este ciclo, dando voz e visibilidade a atletas femininas, de diferentes modalidades desportivas.

Percebendo-se que no Dia da Mulher há uma tendência para falar sobre mulheres, mas que logo no dia a seguir tudo volta à triste normalidade, o grupo resolveu intervir, usando os próprios jornais desportivos como ponto de partida.

A iniciativa intitulada #ElasTambémJogam, consistiu em transformar todas as notícias publicadas nestes jornais, no dia 9 de março, num gráfico dividido em duas cores: uma para os homens e outra para as mulheres.

Esses gráficos transformaram-se em verdadeiros jornais, mas sem nenhuma foto ou texto, só as cores que evidenciam a diferença de atenção dada às mulheres. Os jornais foram entregues a jornalistas, inluenciadores e atletas para que estes amplificassem o alcance desta ação, ainda no dia 09.

O desejo do grupo não é confrontar os jornais, pelo contrário, é fazer deste um momento de reflexão para que todos se possam unir e dar mais visibilidade às mulheres no desporto, já que elas acreditam que a partir daqui é possível começar a mudar este ciclo de desigualdade. «Mais visibilidade gera mais interesse do público, que desperta interesses de marcas, que gera investimentos e consequentemente volta a gerar visibilidade.» relata Marta Faria, fundadora do Raparigas da Bola.

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