Ana Maria Martins, GDC Machados



"Surreal é a palavra que mais vezes ecoa na minha cabeça...

Penso que é sentimento geral, nunca tinha imaginado que passaríamos um dia por uma situação destas... a forma galopante como chegou e nos afastou das nossas tarefas diárias mais simples, para mim, é surreal... É quase impossível não repetir o que vai sendo dito e escrito um pouco por toda a parte mas penso que o que custa mais é o afastamento social, dos nossos familiares próximos e da nossa família do futsal para onde corríamos todos os finais de dia e onde desanuviávamos do stress do dia a dia.

No último treino que tivemos o clima já era de preocupação por poder haver alguém infetado e todas nós temos em casa pessoas de risco e que não queremos de forma nenhuma colocar em perigo. O clube rapidamente cessou a sua atividade desportiva e vamos mantendo contato através das redes sociais e seja através de conversas mais sérias e preocupadas, de brincadeiras ou mesmo de vídeos que vão enviando também para descontrair um pouco e ultrapassar este momento com mais leveza. É uma preocupação diária saber se estão todas bem, pois apesar de sermos desportistas e aparentemente saudáveis, o receio é constante pela saúde de todas nós pois a grande maioria das jogadoras têm profissões que implicam uma exposição diária, seja nas farmácias, hospitais, distribuição e eu própria, na área da publicidade. Profissionalmente, fiquei uma semana em quarentena em casa, mas à medida que o Estado não tomava uma posição de apoio às pequenas empresas, voltámos à nossa atividade profissional, tomando as medidas de segurança possíveis e retomando a casa logo após o trabalho. Apesar do receio, que os media não nos deixam aliviar pelo bombardeamento de notícias, prefiro tentar abstrair-me disso pensar que faço parte dos que continuam a tentar salvar uma parte da nossa economia.

Em tempos que nos é pedido que fiquemos em casa, não é nada que me incomode, quem me conhece sabe o quanto gosto de estar por casa. Não sou de ficar entediada, gosto de desenhar, pintar, ver séries, dar uns socos no saco de boxe e é principalmente, a fazer bricolage, que me sinto realizada. Penso que é também tempo de cada um de nós se reencontrar, reinventar, criar... Só sinto mesmo falta de sair com a bicicleta e de aos fins de semana ir dar umas voltas com a minha carrinha :) E muito mais, de ir ver e dar beijinhos à minha mãe e irmão, e à minha tia que está no hospital e não a podemos visitar faz demasiado tempo...

Mas acredito que é tudo uma questão de sermos pacientes e de provarmos a nós próprios o quanto somos capazes de ser resilientes, sem nunca perder a esperança de que os dias melhores estão a caminho. Por mais que seja cliché, é no que realmente acredito. E se realmente isto não fizer de cada um de nós uma pessoa mais altruísta e menos consumista, não teremos aprendido nada com estes tempos difíceis. Costumo ler perguntas sobre o que iremos fazer quando isto tudo terminar.. eu não faço ideia, ainda falta bastante, mas acho que uma das coisas será respirar bem fundo.. Só quero ir com quem me queira acompanhar à minha Ria Formosa, inspirar e respirar de alívio! ️⚓

E pronto, quero ainda acrescentar ao texto que quero agradecer pela oportunidade de mais uma vez te lembrares do pessoal do Algarve, que não somos só praia onde existem umas mulheres que dão uns pontapés na bola ;)".


                                                                                                     Ana Maria Martins


Raparigas da Bola

© 2016 Raparigas da Bola, Portugal

DESIGUALDADE DE GÉNERO NO DESPORTO É EXPOSTANuma semana marcada pelo Dia da Mulher e pelas maiores conquistas portuguesas de sempre no europeu de atletismo, as notícias que se seguiram a estes dias evidenciam a diferença de importância dada à mulher no desporto.

Em geral, é preciso uma mulher ganhar uma medalha para que ela tenha destaque e mesmo quando isso acontece, a visibilidade não é das maiores, como foi visto esta semana.

Ser uma mulher no desporto não é fácil. A falta de visibilidade, a falta de patrocínios e a falta de interesse geram um ciclo que torna complicada a formação de atletas mulheres de ponta.

O grupo Raparigas da Bola luta para quebrar este ciclo, dando voz e visibilidade a atletas femininas, de diferentes modalidades desportivas.

Percebendo-se que no Dia da Mulher há uma tendência para falar sobre mulheres, mas que logo no dia a seguir tudo volta à triste normalidade, o grupo resolveu intervir, usando os próprios jornais desportivos como ponto de partida.

A iniciativa intitulada #ElasTambémJogam, consistiu em transformar todas as notícias publicadas nestes jornais, no dia 9 de março, num gráfico dividido em duas cores: uma para os homens e outra para as mulheres.

Esses gráficos transformaram-se em verdadeiros jornais, mas sem nenhuma foto ou texto, só as cores que evidenciam a diferença de atenção dada às mulheres. Os jornais foram entregues a jornalistas, inluenciadores e atletas para que estes amplificassem o alcance desta ação, ainda no dia 09.

O desejo do grupo não é confrontar os jornais, pelo contrário, é fazer deste um momento de reflexão para que todos se possam unir e dar mais visibilidade às mulheres no desporto, já que elas acreditam que a partir daqui é possível começar a mudar este ciclo de desigualdade. «Mais visibilidade gera mais interesse do público, que desperta interesses de marcas, que gera investimentos e consequentemente volta a gerar visibilidade.» relata Marta Faria, fundadora do Raparigas da Bola.

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