Inês Spínola

Inês Spínola, internacional Portuguesa e jogadora do Moita Rugby Clube da Bairrada.


Quando, e de que forma, entrou o rugby na tua vida?

Entrei no Rugby em 2009, com 12 anos. Nesse ano houve um campeonato europeu sub19 e eu fui ver um jogo. O treinador da equipa feminina da altura desafiou-me a ir a um treino e como eu sempre adorei desporto e o meu pai e irmão já tinham jogado decidi experimentar.

Fala-nos um pouco sobre o teu percurso...

Como já referi comecei a praticar a modalidade aos 12 anos. Jogava pelos sub14 e pelas séniores femininas. Nessa altura havia a seleção nacional de esperanças. Era uma seleção para jogadoras mais jovens e alguns treinos eram em conjunto com a seleção A. Aos 13 anos fui convocada para ir aos estágios e foi uma coisa que me motivou, poder treinar com as melhores do país. Em 2014 formou-se a primeira seleção sub18 e nesse mesmo ano tive a minha primeira internacionalização. No ano de 2015 continuei a integrar a seleção sub18 e foi um dos melhores momentos que vivi no rugby, conseguimos alcançar o 4º lugar no campeonato Europeu. No ano seguinte, em 2016 pela 1ª vez integrei a seleção sénior e tenho lá permanecido até agora.

Como foi o teu primeiro jogo? Como te sentiste no início, antes de entrar em campo, e no final?

Senti uma certa ansiedade e nervosismo mas ao mesmo tempo adrenalina. Foi um misto de emoções que ainda hoje tenho, embora em menor intensidade. No final do jogo fiquei ainda mais encantada e tive a certeza que queria continuar a praticar esta modalidade.

O nosso campeonato, no teu entender é competitivo? O que farias para o melhorar?

Acho que já foi mais competitivo. Perderam-se muitas atletas porque deixou de haver rugby de XIII mantendo-se apenas a vertente de sevens e atualmente existem pausas muito longas no campeonato o que desmotiva um pouco e também poderá levar ao abandono. Mas já se tem vindo a evoluir de há duas épocas para cá com rugby de 10 e acredito que num curto espaço de tempo irá voltar a ser mais competitivo. Poderá haver alguma dificuldade de alguns clubes de voltar ao rugby de XV ou XIII e em captar atletas para se conseguir jogar nessa vertente.

A ideia que a maioria das pessoas tem sobre o rugby, é que é um desporto violento. Para ti, que jogas, como o vês?

É um desporto de muito contacto físico mas não considero violento. A minha perspetiva de violência é diferente. Existem técnicas de execução e regras que tornam um desporto seguro. Algo que aconteça mais violento que comprometa a segurança do adversário é penalizado com expulsão temporária ou permanente, dependendo da gravidade, portanto no meu entender não é violento.

O que falta para haver mais raparigas a praticarem?

Primeiro falta haver um campeonato competitivo que consiga fidelizar as atletas que já praticam. Depois acho que a comunicação social dá pouco reconhecimento ao rugby, particularmente ao rugby feminino. Acho que muitos jovens, rapazes ou raparigas ainda não conhecem a modalidade. As escolas também deviam dar mais reconhecimento ao rugby através da educação física. Em muitas escolas os professores não o lecionam e provavelmente também por falta de conhecimento das regras mas na minha opinião era fundamental porque quem conhece e experimenta dificilmente não gosta e por último os clubes deveriam ir mais às escolas fazer demonstrações e captação de potenciais atletas. Esta é uma maneira muito fácil de levar o rugby até às crianças e jovens. E melhor ainda nas idades mais novas porque ainda não têm um desporto que pratiquem. 

Se tivesses que convencer uma rapariga a iniciar na modalidade, como o farias?

Não é fácil convencer uma rapariga a experimentar mas é fácil mantê-la no rugby. Às vezes mais difícil que convencer a pessoa, é convencer os pais porque existe sempre aquela ideia pré concebida de que é um desporto violento e apenas para homens mas tento transmitir o meu pensamento e aquilo que sinto que o rugby nos dá. Tento deixar lá o "bichinho", a curiosidade e a vontade de experimentar.

Um dia que deixes de jogar rugby, do que vais sentir mais falta?

Para além daquele nervoso miudinho antes de cada jogo vou sentir falta das mazelas e de me sentir dorida no dia a seguir aos jogos. Também vou sentir falta dos jogos em si, das emoções vividas em cada jogo, das rotinas, dos fins-de-semana cheios de rugby, do convívio durante e no fim dos torneios com as equipas adversárias, a tão famosa 3ª parte no rugby! Resumindo, vou sentir falta do ambiente vivido dentro e fora de campo, mas tenho intenção de ficar ligada à modalidade de qualquer forma. 

Marta Faria,

Raparigas da Bola

© 2016 Raparigas da Bola, Portugal

DESIGUALDADE DE GÉNERO NO DESPORTO É EXPOSTANuma semana marcada pelo Dia da Mulher e pelas maiores conquistas portuguesas de sempre no europeu de atletismo, as notícias que se seguiram a estes dias evidenciam a diferença de importância dada à mulher no desporto.

Em geral, é preciso uma mulher ganhar uma medalha para que ela tenha destaque e mesmo quando isso acontece, a visibilidade não é das maiores, como foi visto esta semana.

Ser uma mulher no desporto não é fácil. A falta de visibilidade, a falta de patrocínios e a falta de interesse geram um ciclo que torna complicada a formação de atletas mulheres de ponta.

O grupo Raparigas da Bola luta para quebrar este ciclo, dando voz e visibilidade a atletas femininas, de diferentes modalidades desportivas.

Percebendo-se que no Dia da Mulher há uma tendência para falar sobre mulheres, mas que logo no dia a seguir tudo volta à triste normalidade, o grupo resolveu intervir, usando os próprios jornais desportivos como ponto de partida.

A iniciativa intitulada #ElasTambémJogam, consistiu em transformar todas as notícias publicadas nestes jornais, no dia 9 de março, num gráfico dividido em duas cores: uma para os homens e outra para as mulheres.

Esses gráficos transformaram-se em verdadeiros jornais, mas sem nenhuma foto ou texto, só as cores que evidenciam a diferença de atenção dada às mulheres. Os jornais foram entregues a jornalistas, inluenciadores e atletas para que estes amplificassem o alcance desta ação, ainda no dia 09.

O desejo do grupo não é confrontar os jornais, pelo contrário, é fazer deste um momento de reflexão para que todos se possam unir e dar mais visibilidade às mulheres no desporto, já que elas acreditam que a partir daqui é possível começar a mudar este ciclo de desigualdade. «Mais visibilidade gera mais interesse do público, que desperta interesses de marcas, que gera investimentos e consequentemente volta a gerar visibilidade.» relata Marta Faria, fundadora do Raparigas da Bola.

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