Patrícia Henriques Mendes - "Mendes"


Patrícia Henriques Mendes

Casa do Benfica em Leiria

Como é que surgiu na tua vida a paixão pelo Futsal?

O futsal surgiu um pouco por acaso na minha vida. Sou uma rapariga que nasceu na aldeia, onde a grande maioria dos miúdos eram rapazes, e todos eles gostavam de jogar à bola, ou seja eu acabei naturalmente por adquirir esse gosto especial pela bola. Depois quando, nós mulheres, conseguimos fazer o mesmo que um homem, num mundo de homens, os elogios acabam por aparecer e a ambição e a vontade de querer fazer mais e melhor aumentam, acabando assim por me envolver neste mundo procurando sempre mais.

O Futsal foi sempre a primeira opção?

Não, aliás demorei imenso tempo até me aperceber que existia competições femininas no mundo do futebol/ futsal.

Iniciei a minha vida de atleta em competição muito nova, por volta dos 8/9 anos, mas através da natação. Fui federada uns 5 anos, consegui alguns títulos individuais e coletivos, mas era muito pequena e cheguei a uma altura que todos os meu colegas pareciam ter o dobro da minha altura, tornou-se quase uma missão impossível acompanha-los nos treinos e nas competições, mas eu adorava toda a exigência e o desafio que era. As piscinas ficavam longe de casa, já se exigia treinos bi diários aos atletas e por motivos econômicos tive que abandonar infelizmente, mas foi uma excelente experiência.

O futsal surgiu logo depois aos 13 anos, através de colegas da escola que já praticavam e lançaram-me este desafio que não deixei mais.

Além do Futsal, és militar. Como concilias tudo?

Neste momento até acho relativamente fácil, era bem mais complicado quando tinha a vida profissional, a faculdade e o futsal. Considero-me uma pessoa bastante racional, e ser militar é sem dúvida uma paixão para mim, e algo que tem de estar em 1o lugar devido a tudo o que esta profissão exige e obriga; então o futsal acaba por não ser a minha prioridade e quando assino por um clube, já sei que vou faltar a treinos e jogos; tento compensar e ter o meu treino individual, mas sendo o futsal um desporto coletivo nem sempre é fácil acompanhar a evolução das minhas colegas.

Do que é que já abdicaste pelo Futsal?

Bem, algumas coisas que ainda hoje me põem a pensar duas vezes, mas sem dúvida que o tempo com a família é a coisa que mais custa abdicar.

Quem és tu? Como te caracterizas como jogadora?

Uma jogadora com alguma experiência, 10 anos desta modalidade, com algumas chamadas à seleção distrital de Leiria, no qual a representei 2 anos na Sub/17 em futebol 7, e 3 anos na Sub/19 em futsal.

Conquistei um campeonato distrital, da 1a Divisão, com a equipa C.R.C. Abelha, que na altura nos deu a subida à Divisão de Honra.

A nível de caracterização individual, considero-me uma jogadora rápida, explosiva, com um bom remate, boa capacidade no "um para um", mas demasiado individualista para a modalidade em si. Sou uma atleta empenhada e esforçada, tanto no treino como nos jogos, e com grande ambição para evoluir e melhorar.

Até hoje houve algum treinador/a ou jogador/a que te tenham marcado? Quem e porquê?

Sem dúvida o meu primeiro treinador, Rui Neves, treinou-me no GARECUS, a minha primeira equipa, e foi ele quem mais apostou em mim, quem mais me desafiou, quem mais acreditou nas minhas capacidades e no meu potencial.

Lembro-me dele fazer as pré-epocas todas ao meu lado, onde me exigia a mim o ritmo que ele marcava e puxava por mim ao limite, chegava a dar voltas e voltas de avanço às restantes atletas, por exemplo. Não me lembro de nunca jogar na equipa dele naqueles 15 min de jogo no final dos treinos, porque sempre que ele fazia parte duma das equipas ele ficava sempre como meu "marcador" direto.

Foi muito bom treinar com ele, até porque além da exigência, ele mantinha sempre os níveis da motivação muito altos.

Onde é que gostavas de chegar? Qual o teu objetivo?

Os meus objetivos são sempre melhorar e evoluir, tudo o resto vem por acréscimo e muitas vezes por sorte e nem sempre por mérito, por isso não penso nisso. O foco está sempre na minha equipa e nos objetivos que ela traça.

Há um clube onde gostasses muito de jogar?

Costumo dizer que hoje em dia já ninguém joga por amor à camisola, mas sim ao dinheiro que cada uma representa para o bolso de cada atleta, como esse não é o meu caso, tento entrar e sair sempre bem dos clubes que represento.

Já representei 6 clubes diferentes em Leiria e em todos eles tentei dar o máximo do meu desempenho.

Como gostavas de ser lembrada no Futsal?

Espero sinceramente não ser lembrada, quero é jogar o mais tempo possível, mas se tiver de ser lembrada que seja como uma jogadora de raça.

Se pudesses decidir, o que mudavas no Futsal Feminino?

A primeira coisa que mudava era o formato do campenato distrital que disputamos agora. Acho super desmotivante a situação dos 3 grupos e depois fase de apuramento de campeão. Por mim voltava a 1a Divisão e a Divisão de Honra, ou então fazer-se apenas duas zonas em Leiria.

Por último a valorização financeira no futsal feminino, a verdade é que de uma ou de outra todas nós pagamos para praticar.

Como é ser mulher num "jogo de homens "?

O futsal para mim já não é um jogo de homens, por isso hoje em dia já é fácil ser-se mulher e jogadora de futsal.

Como vês a evolução do Futsal Feminino no nosso País?

O Campeonato Nacional veio dar uma maior visibilidade às nossas atletas, e isso melhora muito o futsal feminino no nosso país. Claro que ainda há muito a desenvolver, mas certamente que com o tempo chegaremos a níveis superiores.

Que conselho dás a quem se está a iniciar na modalidade?

Para quem está a iniciar, o conselho é apenas terem noção que nem sempre vai ser fácil ganhar o vosso lugar, mas nada é impossível de alcançar com trabalho e dedicação.

© 2016 Raparigas da Bola, Portugal

DESIGUALDADE DE GÉNERO NO DESPORTO É EXPOSTANuma semana marcada pelo Dia da Mulher e pelas maiores conquistas portuguesas de sempre no europeu de atletismo, as notícias que se seguiram a estes dias evidenciam a diferença de importância dada à mulher no desporto.

Em geral, é preciso uma mulher ganhar uma medalha para que ela tenha destaque e mesmo quando isso acontece, a visibilidade não é das maiores, como foi visto esta semana.

Ser uma mulher no desporto não é fácil. A falta de visibilidade, a falta de patrocínios e a falta de interesse geram um ciclo que torna complicada a formação de atletas mulheres de ponta.

O grupo Raparigas da Bola luta para quebrar este ciclo, dando voz e visibilidade a atletas femininas, de diferentes modalidades desportivas.

Percebendo-se que no Dia da Mulher há uma tendência para falar sobre mulheres, mas que logo no dia a seguir tudo volta à triste normalidade, o grupo resolveu intervir, usando os próprios jornais desportivos como ponto de partida.

A iniciativa intitulada #ElasTambémJogam, consistiu em transformar todas as notícias publicadas nestes jornais, no dia 9 de março, num gráfico dividido em duas cores: uma para os homens e outra para as mulheres.

Esses gráficos transformaram-se em verdadeiros jornais, mas sem nenhuma foto ou texto, só as cores que evidenciam a diferença de atenção dada às mulheres. Os jornais foram entregues a jornalistas, inluenciadores e atletas para que estes amplificassem o alcance desta ação, ainda no dia 09.

O desejo do grupo não é confrontar os jornais, pelo contrário, é fazer deste um momento de reflexão para que todos se possam unir e dar mais visibilidade às mulheres no desporto, já que elas acreditam que a partir daqui é possível começar a mudar este ciclo de desigualdade. «Mais visibilidade gera mais interesse do público, que desperta interesses de marcas, que gera investimentos e consequentemente volta a gerar visibilidade.» relata Marta Faria, fundadora do Raparigas da Bola.

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