Marta Hurst, 26 anos, Volley Hermaea Olbia 



Para quem não te conhece, quem é a Marta?

O meu nome completo é Marta Santos Hurst e sou natural do Porto. Nasci no ano de 1992, portanto actualmente tenho 26 anos. O meu pai é inglês e a minha mãe é portuguesa, e tenho um irmão três anos mais novo que eu, que também joga Voleibol. Estudei na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (licenciatura e mestrado) e neste momento estou em Itália, na ilha da Sardenha onde represento o Volley Hermaea Olbia. Também represento a Selecção Nacional desde 2008, tendo passado pelo percurso completo desde Cadetes, Júniores até chegar às Séniores.


Como nasceu esta apetência pelo Voleibol? Foi a única modalidade que praticaste?

O meu professor de Educação Física na escola era ex-atleta de Voleibol, e um dia sugeriu eu experimentar uns treinos. Na altura eu jogava futebol no Boavista, e antes disso pratiquei outras modalidades. Sempre gostei muito de Desporto no geral, e todos os Verões participava em «Férias Desportivas» e campos de férias do género. Fiz Karaté durante muitos anos (penso que seis ou sete), estive três anos na Equitação, e tinha Natação todas as semanas desde que me lembro até aos 15 anos mais ou menos. Na altura só tinha dois treinos de Futebol por semana no Boavista, mais o treino de sábado de manhã, por isso dava para conciliar facilmente com os treinos de Voleibol, que eram na escola após as aulas.


Então e porquê o Voleibol?

Como não havia uma equipa de formação onde eu jogava Futebol, que competisse regularmente, e não querendo com 13/14 anos jogar nas Seniores do Boavista, o Voleibol acabou por ter mais prioridade. Na altura foi o que fez mais sentido, porque a realidade de jogar numa equipa Sénior tão nova, sem passar por um processo de formação, ia ser um choque muito grande com os estudos, que sempre foram uma parte importante da minha vida.


Como tem sido o teu percurso na modalidade? Fala-nos um pouco dele.

Comecei a jogar no Colégio Nossa Senhora do Rosário (no Porto) com 11/12 anos. No meu último ano de Juvenis (ou seja, com 15/16 anos) mudei-me para o Clube Académico da Trofa (CAT), onde fomos Vice-campeãs Nacionais. No ano em que jogava no CAT, já fazia parte da Selecção Nacional de Cadetes mas fui chamada à Selecção Sénior para jogar um torneio amigável no Brasil. Depois mudei-me para o Grupo Desportivo e Cultural de Gueifães (GDCG), onde estive os dois anos de Júnior e dois anos em Seniores. No GDCG fui Campeã Nacional no primeiro ano de Juniores e Vice-campeã no ano seguinte. No primeiro ano de Seniores também perdemos na Final do Campeonato e no ano seguinte saímos derrotadas da Final da Taça de Portugal.

Regressei ao Colégio do Rosário na época 2013/2014, agora sob o nome de Rosário Vólei, onde fui Campeã Nacional e vencedora da Taça de Portugal. Durante esta época pude trabalhar como adjunta da equipa de Juvenis, que foram Campeãs Nacionais. Na época seguinte o projecto Rosário Vólei transitou quase a 100% para o Porto Vólei 2014, e revalidámos os dois títulos que tínhamos conquistado no ano anterior. No segundo ano a representar o Porto Vólei 2014, perdemos as três finais que disputámos: a Supertaça, o Campeonato Nacional e a Taça de Portugal. Nesta mesma época, enquanto atleta do Porto Vólei 2014 fui também treinadora principal das equipas de Cadetes e Juvenis, e conquistei com ambas as equipas os títulos de Campeãs Nacionais.

Durante vários anos, uma vez terminada a época de Voleibol indoor, participei no Campeonato Nacional de Voleibol de Praia, onde fui Campeã Nacional em 2014 (com a Rosa Couto) e Vice-campeã Nacional em 2017 (com a Gabriela Coelho). Cheguei a representar Portugal na vertente de Voleibol de Praia, quer a nível da Federação (Campeonatos Europeus de sub-19 e sub-23) como a nível Universitário (5º lugar no Mundial de 2014, Campeã Nacional em 2016 e 5º lugar no Europeu de 2016).

Na vertente universitária (mas indoor) pela FADEUP também fui Campeã Nacional em 2014, Vice-campeã Nacional em 2015 e 2017, e em 2014 também participei no Europeu de indoor. Depois de terminar o Mestrado em 2017 comecei a minha carreira de jogadora profissional no estrangeiro, onde pude representar o Club Voleibol Barça, o Haro Rioja Volley e durante 4 meses o Club Voleibol Haris, três clubes da Superliga espanhola, a divisão máxima de Espanha. Desde Janeiro de 2019 que estou aqui em Itália, a jogar na segunda divisão (A2). No que refere à Selecção Nacional, estou já a caminho das 80 internacionalizações, tendo participado em várias competições de apuramento e torneios.


E conciliar vida pessoal e profissional com o Vólei... Tem sido um "malabarismo"?

Neste momento a minha vida profissional é o Voleibol, portanto a minha gestão é entre vida pessoal e Voleibol. Quando regresso a casa tento sempre equilibrar o meu tempo entre amigos e família. Isto porque gosto muito de estar com a minha família e do conforto de casa que não tenho durante a época. Por norma tenho apenas um mês entre o final da época com o clube até começarem os trabalhos com a Selecção Nacional durante o Verão. Quando jogava em Portugal, tinha sim que conciliar muita coisa com os estudos, e havia vezes que era muito cansativo, principalmente quando era atleta e treinadora de duas equipas da formação. Mas penso que com organização tudo se consegue fazer! Para mim é tudo uma questão de planificar e organizar as coisas, e de se ser fiel a esse compromisso que fazemos. É preciso muita força de vontade também, e obviamente ter satisfação naquilo que fazemos é indispensável.


Descreve-nos um dia teu...

Por norma treinamos às 10h, então acordo às 8h45 para fazer o saco para o treino e ir com calma tomar o pequeno-almoço. Tento estar no pavilhão sempre 15 minutos antes da hora de início, para o caso de precisar de fazer algum trabalho extra. No caso de o treino matinal ser trabalho de força no ginásio, o horário é o mesmo. Após o primeiro treino vou direta almoçar às 12h30. Se for mais no início da semana, de tarde treinamos às 17h; quanto mais perto do dia de jogo - que são sempre ao domingo - mais cedo são os treinos (16h30 para ver vídeo por exemplo, e às sextas treinamos às 15h30). Assim sendo, tento lanchar alguma coisa uns 45 minutos antes do treino para chegar novamente com tempo ao pavilhão. O jantar aqui na Sardenha é sempre às 20h, então também costumo sair direta do treino da tarde para jantar. Tento deitar-me sempre por volta das 23h30 ou antes até, para dormir o suficiente e acordar pronta para mais um dia.


Até onde pensas chegar na modalidade? Qual o teu maior objetivo?

O meu objetivo é poder continuar a ser profissional durante várias épocas, e gostava que o nosso processo de treino na Selecção Nacional também fosse profissionalizado de modo a podermos alcançar níveis melhores de performance. Pessoalmente gostava muito de poder jogar na primeira divisão italiana, é o meu sonho. Também gostava de fazer parte de uma equipa que disputasse a Champions League, seja essa equipa italiana ou de um outro país europeu. Com a Selecção adorava poder participar nos Jogos Olímpicos! Não sei se algum dia irei alcançar alguns destes objetivos, mas vou sempre trabalhar para isso. E a consequência desse trabalho contínuo será sempre algo positivo para mim.


Achas que ainda há muito preconceito na modalidade? Falando em relação ao Voleibol Masculino.

Acho que é bastante claro que em Portugal (como em praticamente todos os países), o Desporto Feminino não é valorizado como o Desporto Masculino. Durante os últimos anos tem havido mais iniciativas e um pouco mais de visibilidade para o Voleibol Feminino, mas a nível de reconhecimento (que se traduz em apoios a nível de condições) acho que ainda há uma diferença bastante visível entre o Masculino e o Feminino: há ainda muito caminho a percorrer. Neste momento não faz qualquer sentido comparar o Voleibol Feminino com o Masculino porque as condições do Masculino são muito superiores às do Feminino, quer a nível do Campeonato Nacional quer a nível de Selecções. É certo que a Federação tem vindo a desenvolver um projecto mais consistente com o Feminino, mas é certo também que é algo que existe há pouquíssimos anos, enquanto que o tipo de apoios e condições do Masculino tem já vários anos. A consequência principal desse diferencial de apoios é que permite que o Masculino treine e jogue a um nível mais elevado, podendo melhorar de forma individual e colectiva. Consequentemente, o Masculino alcança resultados internacionais de relevo e está presente em competições de elite. Pouco a pouco no Feminino vamos tendo alguns frutos deste tipo de apoios (exemplo disso foi o apuramento, histórico, para o Europeu de 2019), e espero que a Federação continue a apostar em nós para que o trabalho seja desenvolvido de forma contínua e assim possa dar os frutos que todos desejamos.


Como atleta, como achas que seria possível chamar mais pessoas à modalidade? Uma maneira de haver mais divulgação?

Hoje em dia a Internet é um meio de difusão de informação extremamente acessível e que eu penso que deve ser aproveitado ao máximo. Poder-se-ia assim interagir mais com o público, principalmente com os atletas mais novos, que estão mais do que habituados a consultar regularmente as redes sociais. Ao longo dos anos tenho sentido que há menos atletas jovens a ter interesse em ir ver o jogos das suas respectivas equipas, a querer alcançar o patamar de jogar na equipa sénior do seu clube. Em Espanha após os jogos todos de cada fim-de-semana havia o "7 ideal" Feminino e Masculino (criado pela Federação Espanhola), composto pelos atletas com melhor desempenho estatístico. Poder-se-ia fazer algo semelhante em Portugal, pois tal iniciativa faz com que as pessoas conheçam mais atletas, e queiram estar mais atentas ao que se passa durante o Campeonato. Claro que isto pressupõe fazer a estatística de todos os jogos, e no site da Federação apenas se pode consultar a estatística do Masculino. Da minha experiência posso dizer que em Espanha todos os jogos da primeira divisão são obrigatoriamente transmitidos via streaming; em Itália, mesmo estando na A2 há transmissão dos jogos, seja num canal de Youtube ou no Facebook do clube que joga em casa. A criação da VoleiTV por parte da Federação foi uma boa iniciativa (com os resumos semanais e programas como o "Bola Dentro" ou "Sideout") mas apenas se transmite um jogo ou dois cada fim-de-semana... A transmissão regular dos jogos do campeonato português via streaming seria um bom meio de divulgar a modalidade.


Marta Faria, Raparigas da Bola

© 2016 Raparigas da Bola, Portugal

DESIGUALDADE DE GÉNERO NO DESPORTO É EXPOSTANuma semana marcada pelo Dia da Mulher e pelas maiores conquistas portuguesas de sempre no europeu de atletismo, as notícias que se seguiram a estes dias evidenciam a diferença de importância dada à mulher no desporto.

Em geral, é preciso uma mulher ganhar uma medalha para que ela tenha destaque e mesmo quando isso acontece, a visibilidade não é das maiores, como foi visto esta semana.

Ser uma mulher no desporto não é fácil. A falta de visibilidade, a falta de patrocínios e a falta de interesse geram um ciclo que torna complicada a formação de atletas mulheres de ponta.

O grupo Raparigas da Bola luta para quebrar este ciclo, dando voz e visibilidade a atletas femininas, de diferentes modalidades desportivas.

Percebendo-se que no Dia da Mulher há uma tendência para falar sobre mulheres, mas que logo no dia a seguir tudo volta à triste normalidade, o grupo resolveu intervir, usando os próprios jornais desportivos como ponto de partida.

A iniciativa intitulada #ElasTambémJogam, consistiu em transformar todas as notícias publicadas nestes jornais, no dia 9 de março, num gráfico dividido em duas cores: uma para os homens e outra para as mulheres.

Esses gráficos transformaram-se em verdadeiros jornais, mas sem nenhuma foto ou texto, só as cores que evidenciam a diferença de atenção dada às mulheres. Os jornais foram entregues a jornalistas, inluenciadores e atletas para que estes amplificassem o alcance desta ação, ainda no dia 09.

O desejo do grupo não é confrontar os jornais, pelo contrário, é fazer deste um momento de reflexão para que todos se possam unir e dar mais visibilidade às mulheres no desporto, já que elas acreditam que a partir daqui é possível começar a mudar este ciclo de desigualdade. «Mais visibilidade gera mais interesse do público, que desperta interesses de marcas, que gera investimentos e consequentemente volta a gerar visibilidade.» relata Marta Faria, fundadora do Raparigas da Bola.

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