Joana Vieira, Clube Futebol Benfica

Joana Bolou Vieira, 27 anos, avançada do "Fófó"...

Melhor marcadora da época passada e nomeada para jogadora do ano pela Federação, na Gala das Quinas de Ouro.

Para quem não te conhece, quem é a Joana Vieira?

Sou uma pessoa normal. Fiz o meu percurso académico num colégio privado até ao 9º ano, depois fiz o secundário numa escola pública e por fim tirei uma licenciatura. O desporto sempre me acompanhou ao longo da vida escolar. Primeiro andei no judo, depois passei para o futsal, quando entrei no secundário comecei o rugby e por fim passei para o futebol de 11. Actualmente trabalho numa empresa que faz gestão de apartamentos, a Homing.

27 anos, avançada, atualmente no Clube Futebol Benfica. Como foi o teu percurso até aqui?

Comecei a jogar na época 2013/2014 no Belenenses, na altura foi o início do projecto de uma equipa feminina no clube, onde fiz 2 épocas. Disputávamos o Campeonato de Promoção. Em nenhuma época conseguimos subir de divisão, sendo que na segunda estivemos muito perto. Depois fui para o CAC, com um projecto ambicioso e com objectivos bem traçados: subir de divisão. E foi isso que aconteceu. Ganhámos o campeonato e subimos à Liga Allianz. Depois surgiu o convite do Clube Futebol Benfica, que na altura era o clube que ganhava tudo em Portugal, e só podia aceitar, tendo a aliciante de poder ir jogar a Liga dos Campeões, o que felizmente acabou por acontecer.

O que te levou a trocar o rugby pelo futebol?

No rugby sentia que já tinha atingido o máximo em Portugal e portanto, para crescer, teria de ir para o estrangeiro, algo que não era compatível nessa altura porque a minha prioridade era a faculdade. O Belenenses abriu equipa feminina e, como até tinha algum jeito com os pés, decidi experimentar e percebi que estava na altura de tentar algo no futebol, que é a minha paixão.

Os valores do rugby são os mesmos do futebol? O que muda na tua opinião?

Não acho que se deva falar em valores do rugby ou valores do futebol. Tudo tem a ver com as pessoas. São as pessoas que têm valores e que os implementam nas modalidades. O futebol é uma modalidade de massas e, por isso, abrange muito mais pessoas. O rugby sempre foi um desporto mais "elitista", digamos assim. Acho que o termo correcto é espírito, e aí sim, o espírito do rugby é diferente, mas porque é um desporto com contacto físico constante e logo aí quem joga rugby tem de estar disposto a estar constantemente em embates corpo a corpo. E é aí que vem o espírito, o levar uma pancada e ir para o chão e saber que não vai ser marcada nenhuma falta porque aquela pancada está dentro das leis de jogo e então a vontade de nos querermos levantar e não dar parte fraca vem ao de cima. É mais nesse sentido. Cria-se um espírito combativo que no futebol não existe, pois um encontrão facilmente origina uma falta.

Época passada foste a melhor marcadora do Campeonato. Recentemente estavas entre as nomeadas a jogadora do ano na gala da FPF. Como viste esta nomeação e como achas que seria se tivesses ganho? O que mudaria?

Sinceramente, acho que não seria justo se tivesse ganho. Tenho noção que não sou a melhor jogadora portuguesa, nem fui a jogadora do ano. Fui a melhor marcadora, que é diferente. Por isso, penso que não mudaria nada. Confesso que foi uma surpresa a nomeação, que encarei com o maior orgulho possível, como é óbvio, mas que não me passava pela cabeça. Acho que os prémios devem ser entregues a quem realmente os merece e, sem dúvida, tanto a Ana Borges como a Cláudia Neto estão num patamar qualitativo superior ao meu, assim como outras jogadoras, e portanto o prémio foi bem entregue.

E a Seleção, ainda é objetivo?

O meu objectivo é ser o melhor possível, isto é, chegar ao máximo das minhas capacidades. Se isso é suficiente para ir à selecção, não sei. O que eu sei é que qualquer treinador gosta de poder contar com as melhores jogadoras e se eu não sou convocada é porque não tenho o que é necessário. Encaro isso com naturalidade e não treino nem jogo a pensar em tal. Há muitas jogadoras com enorme qualidade, por isso sei que é difícil estar entre as melhores. Treino e jogo a dar o meu melhor, com o máximo empenho e dedicação que alguém pode ter em qualquer modalidade, sempre na perspectiva de poder ser o mais útil possível à equipa onde jogo. Isso sim é o que me move e é o que me faz sentir bem. Nem sempre as coisas correm como gostávamos, mas isso para mim não é problema porque sei que faço sempre o que está ao meu alcance para honrar a camisola que visto.

Qual a tua opinião sobre o futebol feminino Português? Achas que tem capacidade para crescer e chegar ao nível do futebol feminino no resto da Europa?

Para mim é simples. É tudo uma questão de investimento. Em termos de qualidade de jogadoras penso que estamos no bom caminho e que podemos ter um futuro risonho, falta saber se o investimento feito vai acompanhar a evolução das gerações que têm aparecido.

Planos para o futuro, dentro e fora do futebol?

Como jogo futebol de forma amadora, não faço grandes planos. Gosto de viver uma época de cada vez e tirar o máximo proveito, tanto em termos de resultados como de evolução como jogadora. Fora do futebol, neste momento trabalho numa empresa em crescimento onde espero ficar e acompanhá-la até onde penso poder chegar.


Marta Faria,

Raparigas da Bola

© 2016 Raparigas da Bola, Portugal

DESIGUALDADE DE GÉNERO NO DESPORTO É EXPOSTANuma semana marcada pelo Dia da Mulher e pelas maiores conquistas portuguesas de sempre no europeu de atletismo, as notícias que se seguiram a estes dias evidenciam a diferença de importância dada à mulher no desporto.

Em geral, é preciso uma mulher ganhar uma medalha para que ela tenha destaque e mesmo quando isso acontece, a visibilidade não é das maiores, como foi visto esta semana.

Ser uma mulher no desporto não é fácil. A falta de visibilidade, a falta de patrocínios e a falta de interesse geram um ciclo que torna complicada a formação de atletas mulheres de ponta.

O grupo Raparigas da Bola luta para quebrar este ciclo, dando voz e visibilidade a atletas femininas, de diferentes modalidades desportivas.

Percebendo-se que no Dia da Mulher há uma tendência para falar sobre mulheres, mas que logo no dia a seguir tudo volta à triste normalidade, o grupo resolveu intervir, usando os próprios jornais desportivos como ponto de partida.

A iniciativa intitulada #ElasTambémJogam, consistiu em transformar todas as notícias publicadas nestes jornais, no dia 9 de março, num gráfico dividido em duas cores: uma para os homens e outra para as mulheres.

Esses gráficos transformaram-se em verdadeiros jornais, mas sem nenhuma foto ou texto, só as cores que evidenciam a diferença de atenção dada às mulheres. Os jornais foram entregues a jornalistas, inluenciadores e atletas para que estes amplificassem o alcance desta ação, ainda no dia 09.

O desejo do grupo não é confrontar os jornais, pelo contrário, é fazer deste um momento de reflexão para que todos se possam unir e dar mais visibilidade às mulheres no desporto, já que elas acreditam que a partir daqui é possível começar a mudar este ciclo de desigualdade. «Mais visibilidade gera mais interesse do público, que desperta interesses de marcas, que gera investimentos e consequentemente volta a gerar visibilidade.» relata Marta Faria, fundadora do Raparigas da Bola.

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