Joana Maia, Atlético Clube de Cucujães

Em que altura da vida, a Joana, se começa a interessar pelo futebol?

Desde que me lembro, sempre foi a minha grande paixão. Os meus pais agora comentam que com dois/três comecei a dar os meus primeiros "toques na bola", mas o que achavam surpreendem-te e "engraçado" é que com os meus três/quatro anos já via um jogo de futebol na televisão do início ao fim. No entanto, o maior responsável foi o meu pai, que sempre me incutiu, transmitiu e alimentou o meu gosto pelo futebol. Sendo que o meu avô materno foi jogador profissional, vindo de Cabo Verde para jogar ao mais alto nível em equipas como o SL Benfica, Académica de Coimbra e CD Feirense. Com isto, considero que também este "gosto" vem um pouco dos "genes".


Como começou esse percurso?

Fui sempre jogando muito futebol, no infantário, na escola primária, no A.T.L., em casa dos meus avós, dos meus tios. A bola esteve sempre presente na minha infância. A nível federado, iniciei a minha carreira no CD Feirense aos 15 anos, Clube que representei durante cinco épocas. Considero que foram as melhoras a nível futebolístico, porque me deu oportunidade de experienciar a realidade das seleções de Aveiro e Nacional (Sub-19).


Custou deixar o relvado e assumir a direção de uma equipa?

Causa alguma estranheza, deixar um contexto onde fui imensamente feliz, mas penso que faz parte da mudança. E neste momento, não era compatível a minha carreira como jogadora e treinadora. Optei pela de treinadora e estou completamente focada, empenhada e motivada.


"Espero que venha a ser "normal" ver uma mulher a dirigir/orientar uma equipa a top (seja ela feminina ou masculina)." 


Esta época vai orientar a equipa sénior do Atlético Clube de Cucujães. Qual o maior desafio que prevê para esta época?

O meu maior desafio, enquanto líder do Grupo, é ligar o Coletivo à mesma Ideia. Tanto a nível de conduta como de "jogar". A minha Equipa ter sentido de compromisso e as minhas jogadoras virem treinar/jogar com a ânsia de que todos os dias são para melhorar, para sermos melhores. A nível do "jogar" pretendemos que seja de qualidade, prazeiroso para as nossas jogadoras e atrativo para quem nos vem ver. No fundo, o Grupo ter um entendimento/objetivo em comum.


Mulher treinadora. É algo que veremos mais vezes? Acha que as mulheres poderão ter o mesmo sucesso que os homens?

Infelizmente, ainda se vêm muito poucas, principalmente neste patamar. Mas as poucas que temos, têm demonstrado competência. Espero, num futuro breve ver, principalmente, nos Campeonatos Femininos as Equipas a serem lideradas por mulheres. Em relação ao ter "o mesmo sucesso que os homens" , penso que já estivemos mais longe de fazer a diferença nesse sentido, no entanto, a caminhada que está a ser feita deve ser continuada e estimulada, para conseguirmos o devido mérito e respeito pelo nosso trabalho. Espero que venha a ser "normal" ver uma mulher a dirigir/orientar uma equipa a top (seja ela feminina ou masculina).


"Temos talento e potencial, umas jogadoras com ele confirmado, outras em ascensão e a crescer. Mas, não tenho dúvidas, que o futebol feminino português terá um futuro risonho! "


Como se define enquanto treinadora?

Em treino/jogo, exigência máxima, as minhas jogadoras percebem que quando estamos a "trabalhar" tem de ser sempre com grande intensidade. Admito que elas errem, faz parte do processo, mas têm de estar sempre por inteiro em cada treino, em cada jogo. Nos momentos de "lazer", tento potenciar a União do Grupo, quero que todas elas se sintam úteis. E aí, tenho uma ligação próxima com elas, penso que todas elas sabem que podem contar comigo, tanto a nível futebolístico como a nível pessoal.


O que vai "exigir" sempre à sua equipa, às suas atletas?

Qualidade! Compromisso, dedicação e persistência. E mantermo-nos, sempre, fiéis às nossas ideias.


Para terminar... Até onde pode chegar o futebol feminino Português? Tem pernas para andar e chegar longe na Europa?

Claro que sim. A nossa seleção Nacional é prova disso, com uma evolução tremenda nos últimos anos, sendo cada vez mais capaz de fazer frente a qualquer seleção. Temos talento e potencial, umas jogadoras com ele confirmado, outras em ascensão e a crescer. Mas, não tenho dúvidas, que o futebol feminino português terá um futuro risonho! 


Marta Faria - Raparigas da Bola


© 2016 Raparigas da Bola, Portugal

DESIGUALDADE DE GÉNERO NO DESPORTO É EXPOSTANuma semana marcada pelo Dia da Mulher e pelas maiores conquistas portuguesas de sempre no europeu de atletismo, as notícias que se seguiram a estes dias evidenciam a diferença de importância dada à mulher no desporto.

Em geral, é preciso uma mulher ganhar uma medalha para que ela tenha destaque e mesmo quando isso acontece, a visibilidade não é das maiores, como foi visto esta semana.

Ser uma mulher no desporto não é fácil. A falta de visibilidade, a falta de patrocínios e a falta de interesse geram um ciclo que torna complicada a formação de atletas mulheres de ponta.

O grupo Raparigas da Bola luta para quebrar este ciclo, dando voz e visibilidade a atletas femininas, de diferentes modalidades desportivas.

Percebendo-se que no Dia da Mulher há uma tendência para falar sobre mulheres, mas que logo no dia a seguir tudo volta à triste normalidade, o grupo resolveu intervir, usando os próprios jornais desportivos como ponto de partida.

A iniciativa intitulada #ElasTambémJogam, consistiu em transformar todas as notícias publicadas nestes jornais, no dia 9 de março, num gráfico dividido em duas cores: uma para os homens e outra para as mulheres.

Esses gráficos transformaram-se em verdadeiros jornais, mas sem nenhuma foto ou texto, só as cores que evidenciam a diferença de atenção dada às mulheres. Os jornais foram entregues a jornalistas, inluenciadores e atletas para que estes amplificassem o alcance desta ação, ainda no dia 09.

O desejo do grupo não é confrontar os jornais, pelo contrário, é fazer deste um momento de reflexão para que todos se possam unir e dar mais visibilidade às mulheres no desporto, já que elas acreditam que a partir daqui é possível começar a mudar este ciclo de desigualdade. «Mais visibilidade gera mais interesse do público, que desperta interesses de marcas, que gera investimentos e consequentemente volta a gerar visibilidade.» relata Marta Faria, fundadora do Raparigas da Bola.

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