Inês Fernandes, 29 anos, Sport Lisboa e Benfica


Em que altura da tua vida aparece o futsal?

O futsal aparece pela primeira vez na minha vida durante os inter-turmas organizados pela escola a partir do 7º ano. Após a competição do 8º ano, uma das raparigas da minha turma era guarda redes da equipa junior do Grupo Socio-Cultural Novos Talentos e convidou-me para um treino experimental, gostei e fizeram-me um convite para integrar a equipa na época seguinte. Aceitei e assim começou a minha vivência no futsal federado, se não estou em erro em 2003-2004.


Fala-nos um pouco do teu percurso?

É com muito orgulho que digo que fui formada num clube como os Novos Talentos que representei durante 5 anos. No primeiro ano, evoluí com a equipa júnior e estreei-me com a equipa sénior na final da taça AFL ao é de grandes referências como a Rita Martins, a Sílvia Valoroso, a Catarina Câncels, a Marisa Lima, a Pima, a Marta, a Guida, a Helga. É um momento que vou recordar para sempre.

Nos anos seguintes, continuei a evoluir na equipa júnior e tive a sorte de ser bicampeã distrital e de representar a selecção de Lisboa sub-19 também com sucesso.

Fiz a minha transição para sénior, ainda nos Novos Talentos (tinham extinto a equipa sénior no final do meu primeiro ano e voltaram a construí-la com a minha "fornalha" de juniores) e ganhamos a 2ª divisão distrital de Lisboa e no ano seguinte ficámos em 3º lugar, apenas atrás dos Lombos e do Benfica, na 1ª divisão distrital e fomos finalistas da Taça AFL.

Aos 19 anos mudei-me para o Sport Lisboa e Benfica para poder jogar e aprender com aquelas que eram as minhas referências e nunca mais saí do clube. Não houve um único ano em que não ganhasse um título, fosse ele distrital ou nacional. A partir dos 20 anos, integrei também as selecções nacional universitária e nacional absoluta.


Do que é que já abdicaste pelo Futsal?

Acima de tudo tempo, fosse para estudar, estar com a minha família ou conviver com os meus amigos. Mas não falaria em abdicar, o futsal é uma escolha minha e que me tem feito feliz.


Quem és tu? Como te caracterizas como jogadora?

Sou acima de tudo uma jogadora de equipa, com disponibilidade física e mentalidade competitiva acima da média e que gosta de pensar e perceber o que está a acontecer em campo. Evoluí sempre no sentido de ser uma jogadora completa e boa em vários momentos do jogo em vez de particularizar as minhas acções e ser muito boa apenas nalguns.


E fora da quadra, como é a Inês ?

Brincalhona, curiosa, tranquila e idealista.


E gerir treinos, jogos, vida pessoal e profissão...qual a maior dificuldade?

Volta a ser o tempo... gostava que os dias tivessem 26 em vez de 24 horas. Nem sempre é fácil estares fisicamente apta e mentalmente disponível para te apresentares ao nível que tu pretendes em termos competitivos quando a tua profissão é ainda mais importante para ti e exige ainda mais capacidade mental e de decisão.


Quem te inspirou ou ainda inspira como jogadora?

Não falaria em inspiração mas sim admiração. Quando fui para a selecção em 2010, olhava para três jogadoras como a Santíssima Trindade: a Ana Azevedo, a Daniela Ferreira e a Ana Catarina. Ficava muito feliz por ser o "soldado" delas e batalhar ao lado delas. Emprestava-lhes aquilo que elas tinham menos: segurança defensiva e poderio físico. Ainda são jogadoras que admiro mas cada vez mais me foco não nas características físicas mas sim nas mentais e tenho convivido com muitas jogadoras que muita gente acha comuns, mas que são realmente inspiradoras do ponto de vista mental e com quem tenho aprendido muito. Existem duas jogadoras que terei que destacar de qualquer forma: a Sara Ferreira e a Ana Catarina. Não por serem excelentes atletas mas acima de tudo por serem companheiras leais e honestas e com a minha resiliência, persistência e insaciabilidade quando se trata de competir. Gosto tanto delas que tenho cada vez mais certeza que não conseguiria jogar contra elas.


Capitã do Sport Lisboa e Benfica, estás no clube do coração?

Sim.


O que te falta conquistar? Quais os objetivos da equipa nesta fase?

É comum a expressão do título que falta. A verdade é que desde que ganhei tudo a nível nacional percebi que era uma falsa questão quando és um competidor nato. O título que falta é o próximo no qual estás a competir... SEMPRE. Quando deixar de sentir isso, retiro-me do futsal e jogo com a minha família e amigos. Este ano é especial, no sentido de que queria conquistar a Europa: não conseguimos pela selecção, espero consegui-lo pelo Benfica.


Como gostavas de ser lembrada no Futsal?

Aquela jogadora com "cara de poucos amigos" e com mau feitio que tu preferes sempre ter na tua equipa, porque aparte disso, joga bem em quantidade e qualidade.


Se pudesses decidir, o que mudavas no Futsal Feminino?

O quadro competitivo do campeonato nacional: preferia uma época mais curta com uma única fase a 10 equipas e play-offs.


Que conselho dás a quem se está a iniciar na modalidade?

Divirtam-se, sejam generosos e aprendam com todos os que estão a vosso lado.



Marta Faria, Raparigas da Bola

© 2016 Raparigas da Bola, Portugal

DESIGUALDADE DE GÉNERO NO DESPORTO É EXPOSTANuma semana marcada pelo Dia da Mulher e pelas maiores conquistas portuguesas de sempre no europeu de atletismo, as notícias que se seguiram a estes dias evidenciam a diferença de importância dada à mulher no desporto.

Em geral, é preciso uma mulher ganhar uma medalha para que ela tenha destaque e mesmo quando isso acontece, a visibilidade não é das maiores, como foi visto esta semana.

Ser uma mulher no desporto não é fácil. A falta de visibilidade, a falta de patrocínios e a falta de interesse geram um ciclo que torna complicada a formação de atletas mulheres de ponta.

O grupo Raparigas da Bola luta para quebrar este ciclo, dando voz e visibilidade a atletas femininas, de diferentes modalidades desportivas.

Percebendo-se que no Dia da Mulher há uma tendência para falar sobre mulheres, mas que logo no dia a seguir tudo volta à triste normalidade, o grupo resolveu intervir, usando os próprios jornais desportivos como ponto de partida.

A iniciativa intitulada #ElasTambémJogam, consistiu em transformar todas as notícias publicadas nestes jornais, no dia 9 de março, num gráfico dividido em duas cores: uma para os homens e outra para as mulheres.

Esses gráficos transformaram-se em verdadeiros jornais, mas sem nenhuma foto ou texto, só as cores que evidenciam a diferença de atenção dada às mulheres. Os jornais foram entregues a jornalistas, inluenciadores e atletas para que estes amplificassem o alcance desta ação, ainda no dia 09.

O desejo do grupo não é confrontar os jornais, pelo contrário, é fazer deste um momento de reflexão para que todos se possam unir e dar mais visibilidade às mulheres no desporto, já que elas acreditam que a partir daqui é possível começar a mudar este ciclo de desigualdade. «Mais visibilidade gera mais interesse do público, que desperta interesses de marcas, que gera investimentos e consequentemente volta a gerar visibilidade.» relata Marta Faria, fundadora do Raparigas da Bola.

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