Hugo Duarte

Fale- nos um pouco do seu percurso como treinador.O que o levou ao Futebol Feminino?

Desde já quero agradecer à página Raparigas da Bola assim como ao site Bom Futebol , pelo contacto para conceder esta entrevista.

O meu percurso como treinador ainda é muito curto , comecei como adjunto de uma equipa de iniciados do Sport Lisboa Olivais onde conseguimos um excelente 3 lugar.Entretanto há 3 anos atrás recebi um convite do actual treinador do C.A.C Feminino para o ajudar no ponte Frielas onde entrei a meio da época.No ano seguinte seguíamos para o bobadelense , uma equipa simpática com bons valores mas por incompatibilidade não iniciei a época e afastei me .Entretanto comecei a minha aventura no ibercup ( talvez o maior torneio jovem do mundo ) que nestes últimos 2 anos tenho 3 finais disputadas:

IberCup marbella - finalista , derrota por 2-1 com Málaga

IberCup Escandinávia - vencedor

IberCup Estoril - finalista , derrota por 2-0 com espanhol de Barcelona

Nestes torneios tive o prazer de trabalhar com 80% das atletas internacionais sub 17 , sub 19 e AA ( Diana Gomes , braga Catarina amado ,Estoril e Inês silva Estoril ).

É desafiante treinar meninas/mulheres?

É um desafio enorme. Se nos rapazes é difícil, nas mulheres é mais complexo, mas claro que tem as suas partes boas.Para mim as mulheres são mais profissionais que os homens , são mais trabalhadoras, sabem ouvir, são muito respeitadoras e claro num mundo de desigualdade elas estão cá para dizer PRESENTE.

Como acha que as suas jogadoras o caracterizam como treinador?

Uma pergunta difícil, acho que elas gostam imenso de mim , porque para além de me preocupar futebolisticamente também me preocupo com questões pessoais ( família, escola etc ).Uma das características que tenho é ser muito frontal e ser o mais justo possível, (neste vida de treinador é muito difícil haver alguém que seja 200% justo) e faço com que elas acreditem em tudo o que é lhes proposto.Os meus discursos, a minha honestidade fazem tudo parecer mais transparente, elas dizem que eu sou muito focado e exigente mas quando é o momento para brincar, eu sou o primeiro a dar o passo.

Esta época faz parte da equipa técnica de um dos grandes emblemas do nosso Futebol Feminino. Sente maior responsabilidade, ou por outro lado, a motivação é maior?

Sim, verdade. Durante o último ibercup Estoril , recebia todos dias várias chamadas, de clubes incluindo um clube grande de forma a dar informações sobre algumas atletas , e algumas chamadas do meu presidente Domingos Estanislau ( fófó ) para marcar uma reunião no clube, e assim foi.O projecto era aliciante, iria ser treinador principal na equipa sub 19 e treinador adjunto das seniores derivado ao meu bom conhecimento do futebol feminino ( na liga allianz trabalhei com jogadoras de praticamente todos os clubes )Claro que era um motivo de orgulho pois tratava se do BI campeão , vencedor da taça Portugal, super taça e women"s Champions League , um clube com 14 modalidades e com aproximadamente 1000 atletas .A responsabilidade faz parte do meu ADN pois sempre fui assim independentemente do clube, levo o trabalho sempre muito a sério de uma forma profissional .

Quando chegou ao "Fofó" o que encontrou de diferente dos outros clubes por onde já havia passado?

Quando cá cheguei fiquei impressionado com a história do clube, a qual desconhecia por completo.Um clube, que quando pela 1ª vez Portugal ganhou um campeonato do mundo de hóquei patins, nessa equipa haviam 3 jogadores do Clube Futebol Benfica ( fófó ).Um clube formado em 1895 que depois foi reorganizado em 1933 , há muita historia para contar ....Temos um Presidente incansável no apoio a todas as modalidades, uma pessoa sempre disponível para ouvir e hoje em dia é muito importante.Um defensor nato do futebol feminino.

Com esta nova estrutura de Liga Feminina, o nosso futebol ficou a ganhar ou a perder?

Para mim só ficou a ganhar, tem muitas pessoas que falam da forma em como entraram, mas isso foi um convite do Presidente da Federação Portuguesa de Futebol e da Mónica Jorge .Esta nova estrutura só traz benefícios para todos, desde o profissionalismo, às condições que os clubes dão, ao sonhos das atletas e à evolução do Futebol Feminino .Costumo dar como exemplo o Sporting que tem uma excelente formação, desde já mando um abraço muito grande para a Mariana Cabral e restantes treinadores que as formam, pois mais tarde os clubes chamados pequenos vão beneficiar com isso. Repare, este ano fomos buscar (ao Sporting) Sara Granja e Francisca Ferreira para a equipa sénior, Jed Rodrigues e Mariana Leitão ( uma atleta de excelência ) o Estoril reforçou se com Amélia , Tânia Rodrigues , Ana Rita Viegas , e o mesmo se passará no norte com o braga , por exemplo Sara Brasil para o vilaverdense .

Não teme que os clubes ditos, "mais pequenos", venham a sofrer com o crescimento dos grandes?

Bom eu não temo, até porque no fófó se está a trabalhar bem a formação, onde várias atletas têm sido chamadas para representar as séniores. Todos temos a ganhar com a entrada dos grandes clubes.Um conselho que dou, nestes próximos 2/3 anos , apostem muito na formação das atletas.

Até onde pode chegar o nosso Futebol Feminino?

Penso que daqui a 5/6 anos já estaremos a um nível muito bom no campeonato, até porque nestas gerações de jogadoras há muita qualidade.A aposta nos clubes grandes vem ao encontro das minhas perspectivas e temos todos, mas mesmo todos, de acreditar na nossa F.P.F e no trabalho que estão a desenvolver.

E o Hugo, até onde pretende chegar como treinador, qual o seu sonho?

A pergunta mais difícil ....

Bem eu sou uma pessoa muito ambiciosa que apesar de estar num excelente clube quer sempre mais .Pretendo a curto/médio prazo chegar a treinador principal da equipa sénior, ou então trabalhar numa estrutura profissional, mesmo que fosse na formação .Este ano tive um convite dos USA mas preciso aprender um pouco mais.Sonho um dia chegar a uma final da taça de Portugal, ou ganhar um campeonato.. Tenho também um objectivo apesar de ser um pouco remoto, trabalhar na estrutura da federação portuguesa de futebol .Tenho como objectivo formar as minhas jogadoras a nível " profissional " mas também a nível pessoal, pois o sucesso delas também será um pouco meu.

Quero agradecer mais uma vez a entrevista e desejo vos tudo de bom.

Marta Faria, Raparigas da Bola

© 2016 Raparigas da Bola, Portugal

DESIGUALDADE DE GÉNERO NO DESPORTO É EXPOSTANuma semana marcada pelo Dia da Mulher e pelas maiores conquistas portuguesas de sempre no europeu de atletismo, as notícias que se seguiram a estes dias evidenciam a diferença de importância dada à mulher no desporto.

Em geral, é preciso uma mulher ganhar uma medalha para que ela tenha destaque e mesmo quando isso acontece, a visibilidade não é das maiores, como foi visto esta semana.

Ser uma mulher no desporto não é fácil. A falta de visibilidade, a falta de patrocínios e a falta de interesse geram um ciclo que torna complicada a formação de atletas mulheres de ponta.

O grupo Raparigas da Bola luta para quebrar este ciclo, dando voz e visibilidade a atletas femininas, de diferentes modalidades desportivas.

Percebendo-se que no Dia da Mulher há uma tendência para falar sobre mulheres, mas que logo no dia a seguir tudo volta à triste normalidade, o grupo resolveu intervir, usando os próprios jornais desportivos como ponto de partida.

A iniciativa intitulada #ElasTambémJogam, consistiu em transformar todas as notícias publicadas nestes jornais, no dia 9 de março, num gráfico dividido em duas cores: uma para os homens e outra para as mulheres.

Esses gráficos transformaram-se em verdadeiros jornais, mas sem nenhuma foto ou texto, só as cores que evidenciam a diferença de atenção dada às mulheres. Os jornais foram entregues a jornalistas, inluenciadores e atletas para que estes amplificassem o alcance desta ação, ainda no dia 09.

O desejo do grupo não é confrontar os jornais, pelo contrário, é fazer deste um momento de reflexão para que todos se possam unir e dar mais visibilidade às mulheres no desporto, já que elas acreditam que a partir daqui é possível começar a mudar este ciclo de desigualdade. «Mais visibilidade gera mais interesse do público, que desperta interesses de marcas, que gera investimentos e consequentemente volta a gerar visibilidade.» relata Marta Faria, fundadora do Raparigas da Bola.

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